21 de abril de 2005

Mesa Redonda - O Canteiro e o desenho

Mesa Redonda

data: 20 de Abril de 2005.

componentes: Paulo Bica, Sérgio Ferro, João Setti e Nabil Bonduki,

tema: Re-edição do livro ‘Canteiro e Desenho’ de Sérgio Ferro.


Paulo Bica

- Operários são a maioria na manufatura da arquitetura comparados à técnicos e arquitetos, porém hoje ocorre a desqualificação e subordinação do trabalho artesanal em relação ao intelectual, sendo o maior culpado disso o arquiteto, que apóia essa empreitada socioeconômica, para que assim a massa artesão fique necessariamente submetida a ele, o pensante arquiteto.
- Nossa visão de arquitetura divide, como essência, desenho e canteiro. Ação essa conflitante com as origens da arquitetura.

Sérgio Ferro

- Mais da metade do Produto nacional bruto é investido na indústria da construção, que do ponto de vista da produção se encontra ainda muito atrasada, vivendo praticamente numa economia manufatureira. No Brasil os setores mais atrasados são os que seguram o lucro dos mais avançados.
- Hoje a construção não é artesanal, onde um indivíduo é o criador e o executor, ou industrial, dominada pela máquina, mas funciona num esquema de trabalho coletivo.
- William Morrison dizia “Arte é trabalho, trabalho livre, mas trabalho”, arquitetura portando é arte. O é na fase da proposta, já que no momento da execução não há produção, não existe troca ou aliança, pois nada mais pode ser alterado. O resultado final da arquitetura não é portanto idéia ou matéria, mas produto.
- Nas origens da arquitetura existia o intitulado Canteiro Livre, isso é, espaços onde o operário, o artesão, contribuía, podendo alterar o resultado final da obra.
- A manufatura arquitetônica é a indústria onde existe a maior exploração do ser humano na atualidade. originalmente fora a mais unificadora e igualitária forma de trabalho.
- Deve haver um escape das necessidades técnicas, num projeto arquitetônico deve haver espaço para a euforia. A arquitetura Brasileira era das mais expressivas, hoje se submete a fenômenos internacionais como a tendência da decoração do esconder, oposto a anteriormente vigente do revelar.

João Setti

- O livro que está sendo relançado trata de problemas relatados há 3 ou 4 décadas atrás que infelizmente continuam atuais. Trata da exploração do operariado antes concentrada nas indústrias siderúrgicas entre outras hoje, na da construção, mais especificamente nos canteiros. Essa estagnou em prol da lucratividade aliada à fragilidade das relações de trabalho da atualidade. O Pedreiro foi desvalorizado, transformado num ‘faz-tudo’; Nas granes construções exige-se o emprego da população da região, população essa desempregada, mesmo altamente ou medianamente capacitada.
- Houve a individualização do Arquiteto, o único que responde pelo valor da obra. A arquitetura que deveria trabalhar em direção ao avanço político, econômico, e sócio-cultural do país, no Brasil não foi capaz de propor qualquer melhoria das condições da maioria, entre outras motivos, pela adoção do método de urbanização com baixos salários.
- Agora resta a pergunta: Qual o futuro da nossa profissão numa sociedade cada vez mais restrita, mais elitista, mais excludente? Resposta: o fim.

Nabil Bonduki

- Antigamente o Arquiteto não só projetava, mas calculava e gerenciava a obra, hoje parece estar havendo uma retomada, mesmo que leve, deste polivalente arquiteto. Existem 174 cursos universitários de arquitetura no Brasil, com cerca de 50 mil estudantes, gerando alta competitividade, exigindo cada vez mais do arquiteto, por isso essa retomada de um arquiteto multifuncional. Por falta de espaço de atuação o arquiteto deve saber tudo que cabe como arquitetura, para poder agarrar qualquer oportunidade que se apresente. Forçando-os à inclusive voltar ao canteiro, exemplo disso são os laboratórios de construção instalados nas faculdades.

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